terça-feira, 19 de julho de 2011

A rosa desfolhada


Tento compor o nosso amor 
Dentro da tua ausência
 
Toda a loucura, todo o martírio
 
De uma paixão imensa
 
Teu toca-discos, nosso retrato
 
Um tempo descuidado
 

Tudo pisado, tudo partido
 
Tudo no chão jogado
 
E em cada canto
 
Teu desencanto
 
Tua melancolia
 
Teu triste vulto desesperado
 
Ante o que eu te dizia
 
E logo o espanto e logo o insulto
 
O amor dilacerado
 
E logo o pranto ante a agonia
 
Do fato consumado
 

Silenciosa
 
Ficou a rosa
 
No chão despetalada
 
Que eu com meus dedos tentei a medo
 
Reconstruir do nada:
 
O teu perfume, teus doces pêlos
 
A tua pele amada
 
Tudo desfeito, tudo perdido
 
A rosa desfolhada.

(Vinicius de Moraes)
(Imagem: kallytacristina.blogspot.com)

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